Portugueses teimosos. Primeiro escolheram 52 vezes (ou seja, sempre) uma canção em português e até assim venceram, em 2017, com Amar pelos dois, o que ainda é (em termos de pontuação) a maior vitória de sempre. De repente, à canção 53, desfazem-se da tradição e participam com Love is on my side, uma canção que não é apenas em inglês, mas soa como se fosse nos cantada dos anos 70, a partir de Memphis, EUA.

Mudança de mentalidade
‘Estamos orgulhosos pelo facto de termos quebrado a regra do idioma. Não porque cantemos em inglês, mas porque queremos com isso representar uma mudança de mentalidade. A música é uma língua que todos falamos e não tens que votar numa música portuguesa apenas por ser cantada em português. Deves votar na canção que preferes.’ Segundo Pedro Tatanka, atuando sempre de chapéu, vocalista e compositor dos The Black Mamba, o nome que a banda adotou após verem um documentário.

Figuras únicas
A banda surgiu em 2010, já contam com três álbuns e um quarto a caminho, cujo título será: Another night in Amsterdam. No disco estarão temas cuja inspiração são histórias que surgiram em tournée. Em 2018 atuaram em Amesterdão em pequenos palcos e bares, e, conta Tatanka, “lá também se vê todo o tipo de, chamemos-lhes, figuras únicas. Foi assim que conhecemos uma senhora de idade avançada a qual, brevemente, nos contou a sua história. Cheia de planos e sonhos por trás da Cortina de Ferro, parte para a Europa livre. O que se seguiu foi uma nova vida de toxicodependência e prostituição.

Seria mágico
‘O que mais me inspirou na sua história foi que ela acreditava que o amor a rodeava. Foi isso que fez com que escrevesse esta canção. Que até é adequada ao momento que vivemos nesta pandemia, no futuro incerto que temos à nossa frente. E a ideia de que aquela mulher, da qual não temos o nome, poderá ouvir esta canção e perceber que foi ela a inspiração, é algo com que sonho. E como seria mágico se ela a ouvisse.’

Um pouco de…
As coordenadas da letra de Love is on my side até podem estar em Amesterdão, mas as da música estão mais espalhadas, para tal necessitamos de meio globo. Perguntar à banda sobre informação sobre a sua música e a resposta será algo como ‘um pouco de R&B um pouco de soul, um pouco de blues, um pouco de funk, um pouco de gospel, um pouco do rock’n’roll de Little Richard, um pouco de rock’n’roll britânico e acima de tudo, muitos artistas Afro-Americanos, siiiim, Donnie Hathaway, Curtis Mayfield, James Brown, Otis Redding.’

Anos 70
E acima de tudo: voltar no tempo. Os Black Mamba transportam os anos 70 para o presente – incluindo no staging da sua canção participante no Eurofestival. ‘Para esta canção pensamos nos crooners, Frank Sinatra, Tony Bennett, e semelhantes. Daí os fatos.’ E embora a banda, ao cantar em inglês, rompe com uma grande tradição de cantar em português, também homenageia a mesma tradição de outra forma: ‘Queremos também fazer um tributo aos anos de ouro das participações portuguesas nos anos 70, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, José Cid, daí os tons de fundo a preto e branco. Queremos recriar aquela era no nosso som, produção e presença em palco.’

Estrangeiro
A banda conta com, além de Tatanka, Marco Pombinho, Rui Pedro ‘Pity’ Vaz, Guilherme ‘Gui’ Salgueiro e Miguel Casais. E embora já tenham atuado nos Estados Unidos, Brasil e Reino Unido, e apesar dos Black Mamba serem a primeira banda portuguesa a conseguirem um contrato com a prestigiosa Fender, o destino é: ainda mais estrangeiro. ‘Vemos a Eurovisão como uma forma de cooperar e oportunidades para atuar fora de Portugal, uma vez que em Portugal não há nada que não tenhamos já feito.’

Fato de mergulho
Mas o próximo estrangeiro é: Países Baixos. De duas formas: Roterdão em maio e depois o álbum sobre os encontros em Amesterdão. Tatanka: ‘Tal como o homem, vestido com um fato de mergulho, flippers nos pés, tentava lugar com qualquer polícia com que se deparava. Com um vibrador na mão! É sobre esse tipo de personagens que quero cantar.’