O anúncio de que Conan Osíris participaria no Festival da Canção causou comoção em Portugal e quando o tema foi apresentado, começaram também os fãs do Eurofestival de toda a Europa a acotovelar-se: Telemóveis, tens de ouvir! Só poderia correr mal. Mas não foi isso que aconteceu. Osíris recebeu tanto dos júris como do público a pontuação máxima e quando o seu nome foi anunciado como vencedor, gritava a sala: “Conan! Conan! Conan!”

Feiticeiro
Será todo o entusiasmo justificado? Sim. Porque independentemente do que cada um acha de Telemóveis: Portugal abre um pouco mais a Eurovisão. Ainda não tínhamos visto alguém como Conan Osíris. Ele é o feiticeiro que absorve ventos musicais das quatro direções, os mistura no seu cérebro brilhante e o transforma em novas canções que espalha por todos nós. Reconhecemos música de dança, melodias orientais, baladas medievais e sons populares portugueses – mas o que ouvimos é algo novo, é arte original!

Normal
Ele próprio designa a sua música como “normal”. Ou, explicando: “Música normal é qualquer canção que pode ser absorvida por um ser vivo. Música normal é uma canção que nos dá o que queremos: rir, chorar, dançar, viajar, tomar um banho.” Bonita analogia com as quatro direções do vento acima mencionadas, mas há muitas mais. As suas letras são maioritariamente em Português, mas elas podem igualmente conter refrães japoneses, podem chamar-se EIN ENGEL ou YALLA 50 ANGELS, onde frases como “Yalla habibi” e “Fifty gods in this bitch” podem ser encontrados.

Imagem
E faz ele uma sessão fotográfica para a Vogue? Então vemo-lo baixado ao lado de uma pilha de embalagens plástico ou levantado com uma chuva de douradinhos. Claramente ele faz das suas atuações um espetáculo visual. Ele e o seu dançarino fixo, João Reis Moreira, vestiam durante a semifinal do Festival da Canção um fato de cor negra e na final um de cor branca, além disso Conan usou uma máscara da designer Adriana Ribeiro. João dançava em bicos de pés e deixava-se por vezes, cair no chão, para imediatamente se levantar e novamente dançar em bicos de pés.

A letra
E a letra então. O título é Telemóveis. Mas sobre o que fala a canção? As primeiras linhas: “Eu parti o telemóvel a tentar ligar para o céu, Pa’ saber se eu mato a saudade ou quem morre sou eu”. Conan perdeu o pai muito cedo. Será isso o seu objetivo? “Eu não quero falar sobre a letra” disse Conan numa entrevista. “Isso é tão pateta como explicar uma piada. Uma piada não se explica, conta-se. Quem a compreende, compreende.”.

Eu
De qualquer maneira a letra não é coerente: durante as suas atuações Conan improvisa bastante. Ele usa variações nas palavras ou melodia e o João na dança. O que não muda: o refrão no qual Conan canta “E quem mata quem, quem mata quem mata, quem mata quem, nem eu sei” para terminar a canção com “Quem mandou a flecha”, e ele próprio responde: “Fui eu”.

Tiago
Conan Osíris é o nome artístico de Tiago Miranda. Conan da série animada de Hayao Miyazaki, por ele admirada, “Conan, o Rapaz do Futuro“. Osíris, do deus egípcio. Conan é há alguns anos um fenómeno em Portugal. Já editou três álbuns. O primeiro, um EP, lançado em 2014 com o título SILK. O segundo, lançado em 2016 MUSICA, NORMAL e em 2017 o mais recente ADORO BOLOS.

Festival da Canção
Na seleção nacional, Festival da Canção, que desde que os portugueses participam é o método de seleção do representante de Portugal, Conan competiu com outros sete finalistas. Após a sua atuação, grande parte do público levantou-se e demorou para que o aplauso ensurdecedor terminasse e a canção seguinte pudesse ser apresentada. Que o cantor, que por vezes parece inacessível, ficou emocionado por este apoio foi óbvio, o qual não acreditava quando foi anunciado que tinha ganho. Durante a repetição da canção vencedora, Conan fez algo pouco comum nos dias de hoje: chamou os seus concorrentes para o palco.

Acontecimento
Portugal era há muito o patinho coxo do Eurofestival: durante mais de cinquenta anos, o país enviou canções que nem nos cinco primeiros terminaram. Até 2017. Nesse ano tudo mudou – na altura escrevemos um artigo intitulado “Aconteceu algo em Portugal”. A direção do Festival da Canção pediu aos compositores para não comporem músicas “canções tipicamente eurovisivas”. Salvador Sobral foi selecionado com o seu íntimo Amar pelos dois e conseguiu um resultado record em Kyiv, vencendo tanto nos júris como no televoto.

No ano passado o Eurofestival teve lugar em Lisboa. A sucessora de Salvador Sobral, Cláudia Pascoal teve infelizmente menos sucesso e terminou em último lugar. Conan é provavelmente de outro calibre. Veremos isso durante a primeira semifinal; mas algo é já claro: aconteceu novamente algo em Portugal.

 


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Tradução: José Tavares